Blog do Leão Pelado



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Colaboradores:

A. João Soares, Aruangua, J. Rodrigues, Sapiens, Mentiroso



Abrilada
Previsão da Desgraça por Miguel Torga

Estranha revolução esta, que desilude e humilha quem sempre ardentemente a desejou.

Estamos a viver em pleno absurdo, a escrever no livro da História gatafunhos que nenhuma inteligência poderá decifrar no futuro. Todas as conjecturas têm a mesma probabilidade de acerto ou desacerto. Jogamos numa roleta de loucos, que tanto anda como desanda.

O espectáculo que damos neste momento é o de um manicómio territorial onde enfermeiros improvisados e atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um electrochoque aberrante e desumano.

                                                    Miguel Torga                                                             20 de Junho de 1975

Não era difícil de prever o que se preparava. Há uma infinidade de velhos ditados que se adaptam perfeitamente à situação. Um de entre eles é Pelo andar da carruagem se vê quem lá vai dentro.

Na altura dos governos do Cavaco e Silva só um cego, um atrasado mental ou um adormecido ou intoxicado pela malvadez da corrupção política não seria capaz de ver a miséria e pobreza que se estavam a preparar com dedicação e afinco, com a grande capacidade e eficiência. Muitos eram os intoxicados, pois poucos o viram. Os esforços foram coroados de êxito e os resultados esperados perfeitamente almejados. Cómico é que ainda existam pobres diabos que esperem que tudo se possa agora arranjar em pouco tempo, quando levou tantos anos a descer ao fosso actual. Com um povo tão estúpido ainda há quem creia que os políticos não vão continuar a aproveitar-se. Fazem eles bem, iriam agora os cães largar um osso ainda com tanta carne.

A intenção da Abrilada não era certamente a de obter o resultado a que se chegou pelos meios descritos por Miguel Torga. Por demais, durante tanto tempo de ditadura, ninguém teve a coragem de deitar a mão ao País e a altura escolhida foi absolutamente de desmiolados e oportunistas. Afinal, em 1974 a ditadura estava já nos seus estretores finais, apenas aguentada por meia dúzia de esbirros. Marcelo Caetano tinha iniciado as conversações sobre a adesão de Portugal à União Europeia, então Comunidade Económica Europeia (CEE). Não passa pela cabeça de ninguém que esta admitisse uma ditadura no seu seio, o que obrigaria a casta ditatorial a ir largando o osso lentamente. Marcelo Caetano não poderia ser tolo a ponto de não estar disso absolutamente consciente, fê-lo intencionalmente. Os interesses ilícitos dos corruptos têm encoberto estes factos que lhes tirariam todo o brilho dos seus louros podres. A bandalheira jornaleira, manifestando-se profundamente indigna e em declarado conluio, jamais informou a população sobre estes simples e lógicos factos, por serem demasiado esclarecedores sobre a verdade.

Como Torga escreveu, por mais que um motivo esta revolução humilha quem sempre ardentemente a desejou. Comemora-se, assim, a origem de todos os males em Portugal.

Cada povo tem o governo que merece.

Slide show sobre Miguel Torga.

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