No momento em que vai voltar a discutir-se por todo o Velho Continente a Constituição Europeia propõem-nos, mais uma vez, que fiquemos calados e garantem-nos que será melhor que alguém decida por nós.
O aprofundamento da democracia na Europa depende da capacidade de envolver todos os europeus na construção desse projecto. O despotismo esclarecido é o caminho mais fácil para o desastre.
Joana Dalila Santos – Jornalista
Como vão longe a ideologia e as intenções de Robert Schuman, o pai da Europa. Como se sabe, logo ao fim da guerra, quis criar compromissos de interesses comuns entre os beligerantes a fim de que não houvesse mais guerras que devastassem o velho continente, vitimando as populações com a morte, a desolação e a miséria. Em 18 de Abril de 1951 foi assinado o Tratado do Mercado Único do Carvão e do Aço e que entrou em vigor em 15 de Julho de 1952, o tratado que fundou a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (os mais importantes objectos de comércio da altura), assinado pela RFA, França, Itália e pelos países do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo). Vemos que os países do tratado de Roma são os mesmos e que se trata de facto de algo mais do que um simples embrião deste último tratado, seis anos mais tarde.
Para a união e amizade dos povos, para além dos interesses económicos, Robert Schuman e os seus seguidores planearam uma compreensão das culturas e a propagação da democracia, então assaz rudimentar, um conjunto que fomentaria a fraternidade entre os povos. Note-se que os feitos de Schuman se baseavam nas ideias de Jean Monet, um chefe da Resistência Francesa assassinado pelos Alemães como terrorista e que os franceses transformaram, no seu maior herói nacional, a quem prestaram as maiores homenagens dos tempos modernos. O General De Gaulle, como comandante da Resistência, pode ser assim considerado o fundador do terrorismo moderno, casos chamemos terroristas àqueles que defendem o solo pátrio dos invasores. A história, e não os políticos, conta-nos a verdade.
Os países formaram e especializaram os professores para desde a infância moldarem o carácter e o civismo das novas gerações. Evitaram assim que os pais, impossíveis de ensinar como educar os filhos pelo seu número muito superior e pela sua idade, continuassem a embutir os seus descendentes com as ideias arcaicas que fomentaram as quase permanentes guerras do triste passado. Entretanto, para a reconstrução do que fora destroçado, toda a gente trabalhava longas horas e sem o necessário tempo para se ocupar dos filhos. Para ultrapassar este falta, creches gratuitas surgiram em todos os bairros como cogumelos brotam na floresta.
Portugal não fez nada, como de costume, no tempo do Salazar e só apanhou o comboio já em andamento três décadas mais tarde, ou seja quando as gerações do após guerra, armadas do necessário para levarem o progresso aos encontrava-se, consequentemente, com uma população de ovelhas ranhosas prontas a ser sangradas pelos oportunistas corruptos que formaram a nova classe política. À data da Abrilada havia ideais, incontestavelmente, e muitos idealistas, mas rapidamente até esses foram explorados pelos oportunistas, muitos deles corrompidos.
Alguém se lembrará do político português que previu esta situação? Foi esquecido, desmentido e acusado pelas suas opiniões que vieram a concretizar-se, precisamente pelos exploradores do povo, oportunistas e sanguinários. Pela falta de preparação idêntica aos outros europeus, à excepção dos do sul e leste da Europa, muitos assuntos não são ainda hoje compreendidos por uma boa parte da população. Sobretudo no que concerne os princípios e os valores democráticos, como são usados e praticados, tampouco como funciona uma democracia.
Os ensinamentos democráticos da Grécia clássica são hoje considerados em Portugal como ensinamentos filosóficos hipotéticos da digressão do pensamento, não como princípios básicos e reais. Crê-se tanto na sua evidente e concreta realidade como o mundo não acreditou nos relatos históricos de Heródoto de Halicarnasso até que os seus escritoss se comprovaram quase 2400 anos após a sua morte. Sem dúvida, não foi em vão que Vítor Hugo escreveu que a ignorância é a mãe da estupidez.
Deste modo Portugal, que nunca esteve à frente do desenvolvimento, foi ficando ainda mais para trás. Não se vai aqui mencionar como o grosso dos fundos de coesão recebidos da União Europeia foram desbaratados e roubados, mergulhando a população na atroz miséria avtual; está escrito em vários locais, site e blogs.
Entretanto, na restante Europa agora altamente civilizada devido ao trabalho árduo das gerações criadas logo a seguir à guerra – aqueles que trabalharam muito e não comiam o que queriam – foram envelhecendo e sendo substituídos pelos seus filhos. Estes aproveitáramos os mesmos métodos de ensino por que os pais passaram e usufruíram dum lógico e inerente aperfeiçoamento contínuo. Desfrutaram de muito mais facilidades e deixaram de apreciar e valorizar os princípios que lhes deram essa oportunidades.
A maioria dos governantes é agora constituída pelos que nasceram durante o período conhecido como o bayby-boom do pós-guerra. Tendo sempre usufruído da liberdade e da democracia conquistadas pelos pais, nas quais cresceram, não lhe reconhecem o mesmo valor. Substituíram os valores e os princípios que lhes deram essas conquistas numa bandeja por interesses estritamente financeiros. Afinal, para toda a gente e como é normal, o que é conquistado com maior esforço tem sempre um valor mais alto. Comemoraram os Tratado de Roma, conquista de Robert Schuman, mas não valorizam o que lhe deu a força e o ânimo para o alcançar.
Em consequência, começaram a pensar em sacrificar as conquistas dos seus pais a desejos económicos, desprezando a relativa riqueza por eles obtida, que consideraram pouca. Sob uma capa de democracia rota e falsa, apareceram alguns impostores que se associaram aos neocons dos EUA, como o selvagem ex-chefe do governo neocon espanhol ou mais recentemente o do actual francês. Ao primeiro, por ser tão besta foi concedida especial consideração pelos clãs oligárquicos portugueses. Após ter sido corrido do governo do seu país andou a pavonear-se pelos países com deficit de democracia. Como se poderão prestar honrarias a tal monstro sem que se seja também um? Em França não se passa hoje muito diferente.
Seguindo os maus exemplos exteriores, como é de uso natural na máfia política portuguesa, o PSD não conseguiu destruir completamente os serviços de saúde e de segurança social só e apenas não ter tido tempo. Foi bem anunciado e a preparação estava quase terminada, só faltava consumá-lo. Embora tenhamos caído num sistema abertamente pró-nazi e anti-democrático que nem a constituição acata e que mata os cidadãos na saúde, no socorro e à fome, principalmente os mais necessitados e mais idosos, somos obrigados a, mesmo assim, regozijar-nos de não ter sido pior, como o PSD sem qualquer dúvida faria. Que tristeza, a classe política segue os trilhos dos bandidos e saqueadores ao ponto de termos de nos resignar por não haver melhor escolha. O PSD que não é um partido da direita comporta-se como se fosse da extrema direita? Não, nada disso, os partidos portugueses não seguem as suas ideologias, mas apenas a satisfação gananciosa de políticos incapazes, mas vigaristas e burlões. Triste constatação. Até quando se aguentará sem estrebuchar?
Nesta conjuntura, eis que a Constituição Europeia, já anteriormente recusada nalguns países apenas por falta de visão de medidas sociais, vai de novo ser apresentada aos países. Os neocons tentam agora fazer passar o mesmo texto, piorado mas pasteurizado. Para terem a certeza de que passará, juntam-se alguns acordam em negar aos seus povos o direito a se pronunciarem. A maioria dos povos, agora democratizados, não pode aceitar tais imposições. Se elas forem, mesmo assim, impostas por déspotas, pode prever-se um desastre que tanto se pode dar a curto como a médio prazo. Se isto não ocorrer não haverá união digna desse nome. Os povos não aceitarão e retirar-lhes-á o entusiasmo na construção do projecto de Robert Schuman. O resultado poderá produzir um grande entrave e até uma desconstrução da Europa. Os povos já andam há algum tempo descontentes por ultimamente ser sempre o capitalismo a ganhar sobre o socialismo, pela progressiva falta de socialismo na EU.
Em Portugal, onde os políticos se servem da mentira como do ar que respiram, ouvimos o primeiro ministro num dia dizer descaradamente que não podia decidir se haveria referendo ou não – servindo-se dum furo na constituição – sem conhecer o que continha o tratado. Imediatamente, topa-se a falsidade constituída por uma mentira e uma canalhice. A mentira é que ele sabe muito bem o que lá está, ou seja, o bolo não está ainda feito, mas os ingredientes foram-lhe todos entregues pela Alemanha e não se podem mudar. Para o confirmar, ele mesmo o declarou dois dias após as suas imposturas, confirmando que nada poderia ser mudado. Se sabe o que lá está e que não o pode mudar, mentiu com quantos dentes tinha na boca, que só por se servir deles para mentir lhos deviam arrancar. A canalhice é ele julgar-se com o direito de decidir se os termos a redigir serão ou não convincentes para os portugueses, outorgando-lhes ou não o direito de se pronunciarem.
Como se verifica, mesmo que a UE tenha muitos inconvenientes, a ponto de continuar a ser repudiada pala população Suíça a cada referendo por falta de democracia, para Portugal, dado não sermos uma democracia, as vantagens superam os inconvenientes de longe. É uma vergonha dizê-lo, mas devemos reconhecer que a UE nos pode proteger, ainda que pouco, das decisões antidemocráticas dos políticos. Pena é que quase se limite (cá voltamos) a casos de ordem económica, como se verifica actualmente na imposição da anulação dum imposto inédito em todo o mundo: um imposto sobre outro imposto. Que vigarice! Todos os partidos têm colaborado na vigarice, pois que nenhum se opôs. Que cambada!
O Sócrates já se queimou mesmo antes do início do Concelho da Europa ser chefiado por Portugal. Foi acusado de traidor pela Human Rights Watch.
Vamos de mal a pior. Se não tomamos as rédeas das bestas políticas nas nossas mãos arriscamo-nos a que nos projectem da sela por cima das orelhas. Animais selvagens têm que ser domesticados ou recambiados para o seu habitat natural, a selva. Não se duvide, o mal não está em nenhum partido, mas na máfia maligna que os compõe.
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A Europa dos Neocons
e a corrupção Galopante da Máfia Política Nacional
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Tópicos: Corrupção, Destruição, Direitos Humanos, Ditadura, Neocons
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2 mentiras:
«O facto de um território se proclamar independente é fenómeno natural nas sociedades humanas e por isso representa uma hipótese sempre admissível, mas em boa verdade não se lhe pode nem deve marcar prazo» (Oliveira Salazar - Maio de 1962)
O prazo, pelos vistos, agora é determinado pela máfia e maçonaria....
Abraço
Paulo Sempre
É um facto que, devido ao oportunismo de uma classe política anti-democrática, que percorre todos os partidos políticos portugueses, Portugal não sabe aproveitar os benefícios da sua permanência na UE. Os investimentos em infra-estruturas - incluindo as culturais - continuam por fazer porque os fundos comunitários destinados a esse fim são desviados para outros propósitos, que a população ignora, mas suspeita não serem lícitos.
A meu ver, esta insistência em impôr um tratado constitucional à Europa, passando por cima da consulta popular, define o tipo de classe política que ocupa os lugares cimeiros da UE: uma classe política ligada aos interesses capitalistas das grandes corporações económicas, empenhadas em destruir as conquistas sociais das gerações anteriores.
Solução: iniciar uma movimentação social que ponha em causa o poder instalado e reponha os verdadeiros princípios da democracia em todos os países europeus.
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